Há pouco menos de 1 mês de completar 35 anos gosto de pensar que aprendi algumas coisas.
Quando olho para trás e faço uma reavaliação de tudo que já fiz não me arrependo de absolutamente nada. Gosto de pensar que faria tudo da mesma forma.
A única coisa que talvez pudesse ser diferente é o tempo que perdi a ignorar a arte de viver devagar.
Comecei a trabalhar cedo e não me arrependo. Comecei quando quis, ganhei dinheiro, ganhei muita experiência, aprendi a lidar com a pressão, tive acesso a uma série de coisas através do meu trabalho mas também perdi algumas coisas.
Perdi muitas horas a trabalhar até tarde, perdi muitas vezes a paciência com pessoas que não mereciam um terço da consideração que tinha por elas, perdi muitos Natais que passei a trabalhar e muitas outras coisas.
Colocando as coisas numa balança o saldo é claramente positivo. Mas digo sem falsas modéstias que o saldo é positivo graças a mim. E aos meus pais que sempre estiveram ao meu lado. Em absolutamente tudo. Mesmo que não estivessem de acordo, estavam ao meu lado.
Consegui tirar o melhor proveito de tudo o que a vida profissional me deu. Eu me esforcei, me dediquei e me tornei melhor. Cresci muito nos 13 anos que passei no meu primeiro emprego.
Quando decidi que a minha vida tinha que mudar eu ainda não sabia o quanto ela mudaria e como seria dura essa mudança.
Mas as coisas aconteceram e na vida não há marcha atrás e a única hipótese que temos é engatar a primeira e acelerar.
Quando cheguei em Inglaterra o meu primeiro impacto foi desacelerar. Neste país não existe espaço para frases com "Estou sem tempo" "Os dias voam" "Preciso que o meu dia tenha mais que 24 horas".
Toda a estrutura profissional está montada para que haja tempo. Para que haja equilíbrio. E essa mudança não é fácil. Porque estamos habituados a não viver. A correr. A esperar pelo futuro sem viver o presente. Esperamos o fim de semana, esperamos as folgas, esperamos as férias, esperamos dias melhores. E o agora?
E aí sim olhamos para nós, com tempo nas mãos, livres para viver. E é preciso incorporar este novo modo de viver na pessoa que és. Na pessoa que quer tudo para ontem e que hoje já acha que tem que ser diferente. És obrigado a parar e de alguma forma entender que apesar de tudo que aprendeste o tempo que passou não volta atrás. E é preciso entender que o universo te apresenta uma nova forma de vida e que desta vez não podes ignorar. Há outras formas de viver e isso não é necessáriamente mau. Nem tão pouco quer dizer que não tens uma vida preenchida.
E ainda bem que nós, humanos, temos a capacidade de nos ajustar a tudo e depois de algum tempo tudo já é natural e a vida que antes conhecias já não existe mais. Nem sequer te imaginas nela. Nem sabes como viveste antes.
E aos 34 anos, quase 35, tens tempo. Tempo para tudo, principalmente para viver.
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